Um estudo divulgado ontem pelo Ministério da Saúde mostra que Natal é a 3ª cidade do Nordeste onde as mulheres mais apresentam hipertensão arterial. Na capital do Rio Grande do Norte, a proporção de mulheres diagnosticadas com hipertensão chega a 25% da população feminina com idade acima de 18 anos, ficando atrás das cidades de João Pessoa (28,7%) e Recife (25,9%). Mas essa não é uma média distante da nacional.
No país, o diagnóstico de prevenção também é maior nas mulheres (25,5%) do que nos homens (20,7%). Nos dados gerais, a cidade apresenta um percentual de pessoas diagnosticadas com hipertensão é de 22,1% da população maior de 18 anos. Os dados fazem parte da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por inquérito telefônico (Vigitel).
A pesquisa realizada anualmente, desde 2006, entrevistou homens e mulheres num universo de 54.339, na fase adulta – acima de 18 anos.
No geral, Natal ainda está na faixa dos 15 maiores percentuais de diagnóstico de hipertensão. E não é pra menos: não faz muito tempo, Natal foi considerada a capital mais sedentária do Brasil, segundo estudo da ONG Corações. Esse indicador, publicado em setembro de 2010, foi baseado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que coloca a capital em 10º lugar no ranking de qualidade de vida do Nordeste.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia a prevalência estimada de hipertensão no Brasil, entre a população adulta acima de 40 anos, é de 35%. Isso representa em números absolutos 30 milhões de portadores da doença. Cerca de 75% dessas pessoas recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS) para receber atendimento.
Problema
“A hipertensão é um problema de saúde pública e precisa ter atenção como tal”, afirma o presidente da Sociedade de Cardiologia do RN, Itamar Ribeiro de Oliveira. O que preocupa, diz ele, é o desabastecimento nos postos de saúde. Em Natal, o Ministério Público tenta há mais de um ano resolver o problema da falta de medicamentos na rede básica, mas os problemas persistem.
Faltam, principalmente, os remédios usados por pacientes crônicos, como hipertensos e cardíacos. Segundo Itamar Ribeiro, o número de hipertensos diagnosticados tem aumentado, mas a doença também cresce porque está intimamente associada ao estilo de vida da pessoa.
“Você é o que você faz, e o sedentarismo, a obesidade, o consumo excessivo de sal ainda é muito presente. São problemas culturais”. A prevenção é fundamental para reduzir as internações, a procura por pronto-atendimento, os gastos com tratamentos de complicações, a mortalidade cardiovascular e melhorar a qualidade de vida dos portadores.
bate-papo - » Itamar Ribeiro Soc. de Cardiologia do RN
Existe uma causa para a hipertensão?
Em apenas 10% dos casos existe uma causa por trás da doença, geralmente, causas hormonais ou problemas renais, que pode ser tratada e, assim, livrar o paciente da hipertensão. Mas em cerca de 90% dos casos se desconhece a causa. E para essa maioria não existe tratamento definitivo, existe controle. Hoje, as drogas são fantásticas, os efeitos colaterais são mínimos. É possível fazer com que essas pessoas vivam mais e com melhor qualidade de vida.
Quais são os sinais de alerta?
A maioria dos doentes, mais de 50% deles, são absolutamente assintomáticos. Estão trabalhando, estão se exercitando, estão levando sua vida normal. A hipertensão pode ser assintomática durante uma, duas três décadas. Mas quando apresenta sintomas já exige cuidados. Sintomas de cansaço, falta de ar e dor no peito podem ser secundários a um problema de hipertensão, que já esteja atingindo o coração. É o que a doença está causando ao coração e colocando esse paciente em risco de algum evento.
E as formas de prevenção?
O importante é o conjunto de ações. Posso dizer que 70% dos casos de doentes crônicos e degenerativos são resultado daquilo que você faz com você mesmo. Agora o tratamento é multifatorial, vai desde as mudanças nos hábitos de vida, controle do peso, principalmente dessa gordura abdominal, na alimentação e introdução da atividade física.
Personagem da notícia
Aos 70 anos, Regina Fernandes da Silva, moradora da cidade de Santa Cruz (RN) tem hipertensão diagnosticada há mais de cinco anos. Sem o devido controle da pressão e irregularidade no tratamento, ela já sofre com as sequelas provocadas pela doença. Chegou ao hospital na terça-feira, 26/04, com quadro característico de angina – dor no peito devido à circulação insuficiente de sangue no coração.
Depois de um cateterismo, a moradora de Santa Cruz aguardava para ser submetida a uma angioplastia. “Espero que melhore. Cheguei aqui me acabando de dor e não quero passar isso de novo”, diz ela.
Mas a melhora do seu estado de saúde, depende de adesão ao tratamento. Porém, no dia a dia – relata a paciente do SUS - são muitas as dificuldades. “É difícil ter remédio no posto, e é muito caro. Nem sempre dá pra comprar”, afirma dona Regina.
Segundo o cardiologista Itamar Ribeiro de Oliveira, o maior desafio da saúde é a adesão ao tratamento, principalmente dos pacientes da rede pública. “Apesar do acesso à aferição da pressão ter sido ampliado, a classe baixa é a que ainda mais sofre, por não ter acesso regular às medicações”.
O tratamento de controle da hipertensão, adverte o cardiologista, é diário. A interrupção pode gerar sequelas ou mesmo levar a óbito. Geralmente, os pacientes de SUS já chegam na unidade hospitalar com dano em algum órgão vital.
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