terça-feira, 7 de abril de 2009

Mais de sete mil crianças morreram no RN em sete anos

Dez anos passados da morte de sua filha bebê, a recepcionista Suerda Magda do Amaral, 31, ainda guarda em sua voz um tom de revolta. Ela afirma que a falta de atenção na rede pública de saúde a fez perder sua recém-nascida. A mulher conta que fez acompanhamento pré-natal e teve uma gravidez tranquila, mas não recebeu atendimento adequado na Maternidade Pública de Lagoa Seca (hoje fechada). ‘‘Cheguei na maternidade ao meio-dia do sábado de carnaval de 1999. As enfermeiras fizeram um toque e disseram que o parto aconteceria às dez horas da noite. Elas tentaram contato com o médico responsável, mas não conseguiram e não tinha outro médico para me atender. Minha filha nasceu às quatro horas da manhã foi direto para a incubadora. Ela morreu 15 dias depois, de insuficiência respiratória’’, relata. A morte da filha de Suerda é um dos milhares de casos que fazem parte da triste estatística da mortalidade infantil no Rio Grande do Norte. Na semana passada, o Ministério da Saúde divulgou dados sobre o Brasil e a Região Nordeste. Entre 2000 e 2007, foram registradas na região 161.848 mortes de crianças menores de um ano de idade. O Diário de Natal conseguiu com exclusividade os preocupantes números do Rio Grande do Norte. Nada menos que 7.526 crianças com até um ano de vida morreram no estado, ao longo do período. O maior número de ocorrências aconteceu em Natal (2.058), Mossoró (716), Parnamirim (354), Caicó (170) e Ceará Mirim (151). Na tentativa de diminuir em pelo menos 5% ao ano a mortalidade infantil, o ministro da saúde, José Gomes Temporão, assinou o Pacto pela Redução das Desigualdades, com os nove governadores do Nordeste. A meta é impedir até o final deste ano a morte de 1.168 bebês com até 27 dias de nascidos e cerca de 1.700 com menos de um ano. O ministério deverá investir nesse plano de combate à mortalidade um total de R$ 20 milhões. O pacto alcançará nove municípios potiguares. Além dos já citados, a lista inclui Macaíba, Currais Novos, São Gonçalo do Amarante e Pau dos Ferros. O critério de seleção das cidades levou em conta o total de óbitos em número absoluto em cada uma delas. O plano traçado para reduzir a mortalidade tem seis eixos: qualificação da atenção pré-natal, ao parto e ao recém-nascido; formação de recursos humanos; gestão do trabalho e da informação; vigilância do óbito infantil e neonatal e fortalecimento do controle social, mobilização social e comunicação. Para qualificar a atenção ao pré-natal, ao parto e ao recém-nascido, o Nordeste contará com mais de 301 equipes de Saúde da Família, que passarão de 4.430 para 4.731. A região vai contar também com o aumento do número de núcleos de apoio à saúde da família, que passará de 100 para 599. O Rio Grande do Norte receberá 31 novos núcleos, elevando o total para 34. Dentro do eixo de Educação na Saúde e Gestão do Trabalho, o plano prevê, ainda, a qualificação de 6.895 equipes locais do Programa de Saúde da Família (PSF) até dezembro deste ano por meio de educação à distância. Pela mesma modalidade, serão qualificados 7,5 mil profissionais (pediatras e obstetras, equipes de unidades de terapia intensiva e de cuidados intermediários, além daquelas envolvidas no transporte e atendimento pré-hospitalar). Aliado ao reforço da atenção básica, o Nordeste terá 357 novos leitos de unidade de terapia intensiva, elevando a oferta atual de 568 para 925. Com isso, o Rio Grande do Norte ampliará de 29 para 45 o total de leitos de UTI e aumentará o número de leitos das unidades de cuidados intermediários (UCIs), que passará de 27 para 35. Sobre o plano, Suerda é contundente: ‘‘Espero que também acrescente uma qualificação para os médicos, porque minha filha morreu por negligência médica. Eles precisam de uma consciência maior porque lidam diariamente com vidas, mas parece que às vezes esquecem disso’’. Grávida de seis meses, a estudante Ana Paula Seixas, 28, aprova o plano mesmo acreditando que essas ações são mais benéficas para as gestantes que necessitam do Sistema Único de Saúde (SUS). ‘‘As pessoas que têm plano de saúde conseguem ter um atendimento melhor, mas as que dependem dos postos de saúde realmente precisam de uma atenção especial do governo. Espero que esse projeto venha resolver ou, pelo menos, diminuir a mortalidade infantil’’, opina.

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